tenho uma dor dentro de mim, que de tão grande e profunda,que de tão cortante e ardente,deixei de sentir.
não sei se explicar será a opção,porque não a há e acaba sempre tudo por ser coração,mas a dor que sinto em mim é bem maior do que o de mim posso pensar.
um filho,quando nasce,quando nos aparece, surpreende-nos no sentido da vida e nos sentidos.
conhecemos o cheiro dele,o som do choro,a rugueza das mãos,os contornos de penugem quase inexistente.
aprendemos que é ali que vamos ficar,que é ali que queremos morar,que é ali,naquele momento que percebemos que tudo vai ser igual sendo diferente.
o tempo passa,o choro muda como o tempo,o cheiro muda com a estações e os contornos e rugas fincam-se no corpo e na pedra interior.
e nós estamos ali.eu estive sempre ali. sempre.sempre.
vi sorrisos, vivi-os,vi choros, sofri-os, vi conquistas, vivi as taças e os diplomas.
e o tempo passou, mudando-se e mudando tudo e todos, dando-me mais rugas,menos contornos.
e começaram as perdas que não pensei ter.
perdi o olfacto,pois o cheiro dele já não o conheço,perdi a audição,pois o som das palavras por mim ensinadas e por ele aprendidas,deixei-as de ouvir,perdi a sensibilidade de lhe conhecer as rugas e contornos.
foi-se tudo,o que sempre foi tudo,para ficar-se em nada.
mas a dor é imensa por uma só razão,pressinto-a angustiada e se calhar não.
razão que o amor incondicional é incondicional,mas o amor de gostar estagnou como a agua pantanosa de verões sucessivos sem outonos,invernos e primaveras.
o filho já não me nasce.
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