Tenho um nariz do caraças.
Primeiro, é um senhor nariz, e depois sente os cheiros e odores que me levam a sítios inacreditáveis.
É verdade que tirar catotas ou macacos se tornou uma tarefa difícil com o piercing, mas aquele sentido olfatal ficou e cada vez mais me põe alerta. Quando chego a casa, antes de pestanejar já sei a que ela respira:comida deliciosa feita pelo Luís, ou então a mistura de cremes, perfumes e chulés da Leonor.
Mas o pior, ou o bem melhor são os cheiros que me alcançam as memórias.
Um dia destes, numa formação super(bué! interessante, passaram por mim a água de rosas que me levou às imagens da infância e à minha avó.
E hoje, ao tentar respirar dentro carro abro uma janela e de repente estava eu na academia, na antiga academia de música, ali na rua 19,a saltar por entre as árvores de camélias rosa e branca.
De repente, estava a ouvir um piano, se calhar a ser tocado pelos grandes, oFrancisco Seabra, talvez, o violino do Zé Paulo, o ranger do violoncelo nas aulas da Gisela.
E nós, por entre saltos e brincadeiras lutavamos com os pequenos botões das camélias, escondendo os da dona Del, que aparecia e nos ralhava com sotaque brasileiro.
Atrás dela vinha o professor Mário Neves, que nada dizia e lá se escapulia com o Télé, não fosse sobrar para ele também.
As tardes de Julho, na espera dos exames,eram passadas sentados nas escadas a ver os outros de toalha e bola a ir para a praia, e nós, os da música ali ficávamos a trautear hindmith e a decorar Fontaine.
E o cheiro aparecia, café queimado.
Nunca soube de onde vinha aquele cheiro, e hoje, ao fim de tantos anos... mesmo muitos anos, senti o outra vez pela frinchas do vidro.
Bem haja, querido nariz que me fazes viajar aos meus melhores tempos de infância.
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