domingo, dezembro 13, 2009

As 7 mulheres...

Hoje acordei a cantar "as 7 mulheres do minho" do Zeca Afonso.Por acaso ainda não me calei, interiormente com a musica...é daqueles dias que vai ser até enjoar...mas fez-me pensar em 7 mulheres da minha família.
A minha avó paterna, Maria e as suas 6 netas.
Penso que da mais velha para a mais nova é assim: Alzira, Carminda, Graça, Manuela, eu e Alexandra.
Meu pai dizia que todas nós tinhamos vidas "diferentes"!!!Sem sorte na vida tradicional que se espera das mulheres...
A Zira, mais velha, viveu uma infância e adolescência sempre com a mãe, irmã do meu pai, e com o pai dela, o meu tio a viver no Algarve a trabalhar. O dia-a-dia era complicado sem o pai e a relação foi sempre de saudade. Lembro-me de no Natal, quando ele não estava cá, que era uma tristeza imensa.Mas as férias eram lá passadas e ela foi atenuando a saudade com o crescimento e chegada à vida adulta. Entretanto, casa com uma um rapaz advogado, onde vive um grande amor que acaba na tragédia da morte dele. O tempo foi passando, e passados alguns anos conhece um pacato brasileiro, Dudu, que é divertido e parece fazê-la sorrir outra vez...
A Carminda, filha do meu tio mais próximo do meu pai, sempre me encantou com a sua voz terna e doce. As lembranças levam-me lá a casa para comer o melhor pão com manteiga...passado a ferro pelo meu tio.Sim, passado a ferro...fantástico, e depois a praia da Madalena, onde íamos a casa dos avós dela e se andava descalço sempre na areia.
Casou com um rapaz que era uma simpatia, educado e promissor.Fui, por brincadeira a levar-lhe o véu na entrada da igreja.E nesse dia foi tirada uma fotografia dos irmãos(meu pai, o dela e os outros rapazes)que hoje tem grande significado para nós, pois a morte levou-os já a quase todos por uma ordem que estava na foto.Ainda está cá o pai dela, o último dos rapazes que é quase a fotocópia do meu pai...
Bem...casou e teve uma pequenita, a Violeta.Engraçado o nome? Não!Todas nós tivemos o estigma do Violeta de nome, por uma Dona Violeta ter ajudado a família em tempos idos. Ficou a homenagem nesta...
Mas os caminhos da vida são tortuosos e nem sempre são os melhores e o casamento acabou.O tempo passou...e hoje, espiritual, numa procura de de paz para si e para os outros, Carminda continua doce e suave, meiga e amorosa, com um novo companheiro, que a ajuda no caminho espiritual que escolheu.
E a Graça?Miúda esperta, de cabeça para os números e contas, inteligente nos estudos.Viveu nas saias da avós.A nossa Maria e a do lado da mãe.O pai dela, também irmão do meu pai, faleceu poucos meses antes do meu pai.Todos naquela casa eram uma delícia!E os domingos lá passados lembram brincadeiras, e comidas de morrer e chorar por mais...e os tremoços com "sumol"?
Pois a Graça, assim viveu, no meio dos velhotas, com os gatos de companhia e não sei como acabou por desistir dos sonhos de continuar os estudos. Não sei porquê, mas as recordações eram que ela podia ser uma boa aluna mas não pode continuar...talvez a vida não ajudasse.Saltou para o mundo do trabalho, com uma inocência embelezada pelo corpo e palminho de cara. E viu-se num esplendor de coisas que nunca tinha tido e nunca tinha visto.Acabou por conhecer a maternidade sozinha e ainda sem idade para a entender...mas hoje vai vivendo tranquila, com algumas mazelas físicas de um grave acidente e sei eu lá, se também com mazelas do percurso de vida que teve!
Logo a seguir vem a Manuela, irmã da Carminda.Mais refilonita, é a cara da minha avó!É "pito rosa"(nome que surge de uma historia engraçada de tempos idos, e de que nem todos gostam de se intitulat...).Nélinha, amorosa de boquinha de mimo, linda, engraçada, também andou por aqui e por ali.Esteve no Algarve, em Lisboa, lutando na vida.Acho que também esteve casada.Mas as trocas e baldrocas do passar do tempo levou-a a ser livre e agora a estar dedicada a massagens personalizadas com os requintes orientais do shiatsu.Continua muito Gomes...Acho que feliz...
E a seguir venho eu, a alucinada eu!Casei, tive filhos(lindos...),descasei...vivi sonhos fora do lugar, estraviei-me na alma, e acabei esbarrada num "olho verde", que me mostrou que a vida não acabou e que era especial, e conheci o sofrimento profundo de perder o meu pai.Vi e senti a morte, e continuo a recuperar. Sou feliz, mesmo nas contrariedades dos dias que vão passando, sentindo que me falta alguém para partilhar.
E a pequenita da Xana!A mais nova e a sempre mais misteriosa para mim.Escorpião de signo, sempre senti, desde miúda, que não conseguia chegar-lhe ao coração.Se calhar chegava, mas à maneira dela. Desejei ser mais próxima, mas os feitios eram opostos e enquanto eu falava e falava, Xaninha ouvia tranquilamente, deixando tudo para dentro. O pai, meu tio de sangue, deixou-nos cedo de mais. Fez-lhe falta, fez-nos falta.Ainda hoje choro a ida dele como choro a do meu pai.Era um homem extraordinário, acutilante, persistente, lutador, inteligente, brilhante na maneira de sorrir e de nos fazer maroteiras.Foi o anjo da guarda do meu pai e terei sempre uma grande dívida de gratidão pela amor e ajuda que sempre nos prestou.Foi este pai que a Xana perdeu, que a fez perder o sorriso matreiro que sempre me cativou por ser misterioso...
Acabamos por nos afastar, porque a vida dá voltas, e nós, no nosso egoísmo e monotonia deixamos acontecer...Mas acho que está bem.Sei que conheceu o amor algures, mas não sei se foi o tal...se é que existe esse "tal! Tornou-se graciosa no olhar e nas palavras, e acho-a muito bonita.
E são assim as 6 mulheres da minha avó Maria. Diferentes entre nós e diferentes na vida que fomos percorrendo. Em tempos concordei com o me pai, todas tivemos percalços na vida, e não seguimos rumos tradicionais que todos esperam, mas hoje penso bem diferente. Sinto-me orgulhosa de nós.
Somos mulheres fortes, humanas, solidárias, ricas nas convicções, desenrascadas e emotivas.
E sim...netas da avó Maria, que também deve sentir orgulho das meninas dela.
Nós, as 7 mulheres de Gaia e Porto...
Faltam os rapazes...para outro dia, faltam os bisnetos...
Gostava de nos juntarmos num dia de sol e de sorrisos e não nos dias tristes que temos vivido.
Gostava de me sentir num abraço Gomes...