sábado, novembro 29, 2014

O meu diretor Toni

há uns 6 anos a minha vida levou um tropeço tão grande que pensei que ia deixar de respirar a qualquer momento.
a morte do meu pai, impensável e repentina, com um doloroso apagar de tudo foi como se levasse um tareia contínua até não sentir nada.
depois veio a indiferença.indiferença pelo bom e pelo mau.indiferença pela vida, pelos festejos,pelas desilusões mundanas, indiferença pela morte de outros a quem a vida se prolongou em mais anos que os que o meu pai tinha.
dizia eu, foi na sua hora, viveu uma vida,foi depois do meu pai.
cheguei a ficar deslumbrada comigo própria por ter estas tão serenas reacções,por pensar no inevitável como próprio e existente consumado.
e sentia-me acima de tudo e de todos.
enlouqueci.
até a noticia de mais uma morte anunciada. soco no estômago e outra vez a perder as estribeiras respiratórias.
fiquei sem respirar, não consegui engolir, não queria pensar.
e a morte saiu outra vez à rua.
e levou-o.
fomos amigos e colegas de trabalho.lembro-me do olhar tímido sem me conhecer, sentado numa mesa, numa salinha de gargalhadas enquanto ele brincava no computador.
ali entrava, ria-se,fumava o cigarrito e regressava ao que gostava de fazer:ensinar.
depois veio um novo rumo.dele e meu. fui para longe e quando volto já não havia salinha.
as gargalhadas continuaram,o meu cigarro desapareceu mas o olhar tímido, agora mais confiante estava lá.
zanguei-me,desiludi-me,apoiei,dei a minha mão, o meu respeito,os meus desatinos, as minhas refilices.
tudo durante tanto tempo e criou-se um sentimento tão grande de amizade,sentimento que continuo a dizer e a sentir como sendo a mais bela forma de amar.
nunca lhe disse,nunca lhe mostrei a sério o quanto o sentia no meu coração.
e ele foi.
e não consigo acreditar,porque não consigo respirar. não consigo aceitar,não consigo pensar.
saudade fica e mais uma raiva sem nunca mais passar.
um dia, Toni, vou te dizer o quanto estou zangada contigo.por teres ido sem hora,sem aviso,sem dever de ir.

quinta-feira, abril 24, 2014

o beijo

Durante toda a vida fomos ouvindo e vivenciando o beijo.
De pequenos nos ensinam a beijar por carinho, por respeito, por amor, e o beijo é sugerido a todo o momento seja querido ou não.
Beijamos por tudo e por nada, com vontade, deliciosamente, sentindo o sabor da alegria, ou então "pregamos" aquele beijo sem açúcar ou sal, obrigados pela conveniência e bem se é no cumprimento menos formal.
E o tempo passa, e o beijo acaba quase por nem se notar.
Mesmo que o seja dado com toda a emoção, acaba por ser mecânico, sem floridos e cores, logo pela manhã e mesmo ao deitar.
Ali fica a sensação de beijo sem o ser.
O tempo passa...
E de repente, um beijo sabe a toda avalanche de montanha russa. Simplesmente um beijo.
Surgem lembranças de risos, de brincadeiras, de vozes longínquas e perdidas de nós, surge o menos bom, mas recheado da força que sempre existiu.
O calor, o amor em todas as formas que me lembro ressurgem naquele simples beijo.
E há tanto tempo que não te dava um beijo...irmão.