quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Cheiros (in facebook a 27 de fevereiro de 2018)


Tenho um nariz do caraças. 
Primeiro, é um senhor nariz, e depois sente os cheiros e odores que me levam a sítios inacreditáveis. 
É verdade que tirar catotas ou macacos se tornou uma tarefa difícil com o piercing, mas aquele sentido olfatal ficou e cada vez mais me põe alerta. Quando chego a casa, antes de pestanejar já sei a que ela respira:comida deliciosa feita pelo Luís, ou então a mistura de cremes, perfumes e chulés da Leonor. 
Mas o pior, ou o bem melhor são os cheiros que me alcançam as memórias. 
Um dia destes, numa formação super(bué!  interessante, passaram por mim a água de rosas que me levou às imagens da infância e à minha avó. 
E hoje, ao tentar respirar dentro carro abro uma janela e de repente estava eu na academia, na antiga academia de música, ali na rua 19,a saltar por entre as árvores de camélias rosa e branca. 
De repente, estava a ouvir um piano, se calhar a ser tocado pelos grandes, oFrancisco Seabra, talvez, o violino do Zé Paulo, o ranger do violoncelo nas aulas da Gisela. 
E nós, por entre saltos e brincadeiras lutavamos com os pequenos botões das camélias, escondendo os da dona Del, que aparecia e nos ralhava com sotaque brasileiro. 
Atrás dela vinha o professor Mário Neves, que nada dizia e lá se escapulia com o Télé, não fosse sobrar para ele também. 
As tardes de Julho, na espera dos exames,eram passadas sentados nas escadas a ver os outros de toalha e bola a ir para a praia, e nós, os da música ali ficávamos a trautear hindmith e a decorar Fontaine. 
E o cheiro aparecia, café queimado. 
Nunca soube de onde vinha aquele cheiro, e hoje, ao fim de tantos anos... mesmo muitos anos, senti o outra vez pela frinchas do vidro. 
Bem haja, querido nariz que me fazes viajar aos meus melhores tempos de infância.

quarta-feira, dezembro 12, 2018

fazes falta

tenho tantas saudades tua pai.
fazes me falta na vida, nos meus passos, nas minhas decisões.
fazes me falta nos meus choros.
nem sei como consigo viver nesta solidão,  nesta planície nua de ti.
fazes me tanta falta, quando olho para o João, quando olho para a Leonor.
porque lhes fazes falta.
somos órfãos de ti.

terça-feira, novembro 06, 2018

ser filha

o tempo foi passando e chegaram os 10 anos em que o meu pai morreu.
ele foi, nós ficamos.
uns melhor,outros assim a assim,outros sei lá como.
eu? sei lá como fiquei. fui ao fundo,fiquei por lá muito tempo e vim à tona várias vezes.
os ciclos de vida e da vida assim me fizeram.mergulhar,respirar,mergulhar e planar tipo boiar.
de todos nós, ela foi a que não ficou nada.
ou ficou tudo.
ficou abandonada,sózinha,sem emoção,sem nada.
o nada com tudo,o nada com todos,o nada que existia.
10 anos sem nada.tudo muito pela rama,tudo muito sem sabor,tudo sem vontade.
e se nada existia,o pouco que ainda podia ser a bóia para sobreviver foi-se indo até quase desaparecer.
é da idade.é assim que começa.é assim que vai acontecer.
ela deixou de estar atenta,deixou de nos ouvir,deixou de nos ver,porque assim procurou para ter o nada.
já nada interessa e nós,que orfãos há 10 anos,não importamos.
olho-a e enraiveço-me por mim e por ela.por ter desistido de lutar e sempre me arrastar nesta derrota.
olho-a e sofro de tristeza,pela tristeza infinita nos olhos azuis,pelo desencanto de 10 anos.
vejo-a perder-se de mãos livres sem olhar a nada.
mas somos nós,os orfãos que a perdemos.
o tempo está a passar e a dor da perda de há 10 anos, que não passa,vem juntar-se à dor da perda da mãe que sempre achamos que não se ia perder.

domingo, junho 17, 2018

ser esponja

sou uma esponja.
viver assim rodeada de pessoas,de gente que me entra no coração provocou em mim o efeito esponja.
não quero e por vezes não posso,mas o que eles olham,o que eles sentem,o que eles vivem,passa por mim e eu absorvo.
o bem, as boas coisas,os sorrisos e gargalhas são alimentos esponjosos que me fazem adormecer em sonhos.
mas o que magoa,o que os faz sofrer, entram na esponja e endurecem-me.
fico sem saber o que posso fazer,porque por vezes e tantas são elas,nada posso desenhar para mudar,para atenuar,para resolver.
a vida dos outros,das outras,da gente que me entra no coração, é a vida
eu sou só a esponja.

sábado, maio 05, 2018

fantasmas de mim

escrever por escrever nem sempre me apetece.
mas faz me mal não o fazer.faz-me esquecer o que me leva a caminhar neste caminho.
ao longo do tempo sempre achei que não me havia de preocupar com a velhice.
sempre não o quis fazer.
mas começo a interiorizar o que o exterior me mostra e não gosto.
as rugas começam a mostrar se, não só as que marcam os risos da vida,mas as que mostram as tristezas de mortes,as preocupações que se avistam com o crescimento dos meus filhos, as que me vincam no medo de perder a vida que sempre tive.
o corpo já se vai ressentindo,não acompanha o que por vezes desejo e quero,e sem querer o corpo está a abafar a mente que sempre achei que ficava nova.
penso e nem sempre gosto do que penso.
sinto a diferença e principalmente sinto o tempo passar e a chegar a tempos que ainda há tão pouco achei distantes.
o meio século, que achava um número feliz de se fazer,de se ter, de se ter vivido, tornou se um fantasma assustador,um fantasma avassalador,um fantasma que me aspira para um redopio que apenas pressinto.
estou assustada por mim, pelo meu corpo,pelo meu pensamento.
afinal não quero continuar a crescer,

quarta-feira, janeiro 31, 2018

maternidade

nunca brinquei com bonecas.
nem me lembro de as ter, apesar de me dizerem que as tive.
lembro-me dos carros que o meu pai me trazia,de correr e saltar, de andar pelos muros.
depois vieram os livros.mas não gostava de histórias de fadas e muito menos de bonecas.
os nenucos,quase que pequenos monstros ainda apareceram mas nunca lhes liguei.
gostava das barriguitas pretas.só das pretas porque não eram parecidas com os meninos e meninas que conhecia.
e sem bonecas,cresci até eu própria ser a boneca do bolo.
a boneca de branco,cor de pele que eu nem gostava e a pele até podia ter sido outra.
casei.e logo vieram as perguntas,os comentários:e filhos,tudo se cria,é uma benção,é para isso que se cresce.
ok.
quando o meu filho nasceu foi um carrocel descontrolado de tudo.não queria estar grávida, e ele nasceu tão depressa que nem deu tempo de preparar tudo como as perguntas e os comentários diziam.
e de repente estava ele ali,ao meu lado e eu sem perceber como era .como vestir,como pegar,como olhar.
desconfiada olhei para o meu braço que o amparava e ele ali estava:minúsculo,magrito,sem sobrancelhas, quase sem cabelo e de olhos fechados.
mas foi o nariz,o nariz que me fez apaixonar e ser mãe naquele momento de solidão que tivemos.
sózinhos ainda estávamos ligados, e ele empinou o nariz para me dizer:gostas de bonecas?não,mas agora eu estou aqui e tens de brincar comigo.
brincar foi o viver todos aqueles momentos que posso esquecer em palavras e em imagens,mas que sinto embrulhados em mim
foi a maternidade.foi aquilo que nunca mais me deixou ser só eu,e passou a ser nós.
quando a leonor, a filha ansiada por mim,mais do que a mim própria surgiu, a maternidade já cá andava,mas foi a magia que me encantou:era eu em sonhos que ali estava,era a boneca que eu nunca tinha tido,nem gostado,era a barriguita rosada.
se tivesse falado,sei o que me teria dito,gosto de ti, mãe.gosto de ti e quero abraçar-te.
depois cantaria para mim,para me embalar a dor física que esqueci na paixão que ali nasceu.
foi a maternidade.foi aquilo que nunca mais me deixou ser só eu,e passou a ser nós.
duas vezes instalada em mim,duas vezes é para sempre,para a vida.
o tempo passou, as noites nunca mais foram iguais,ainda hoje,passados 21 anos de um, 17 de outro,nunca mais foram de sono leve de ouvir a respiração, as voltas na cama,as vozes que sempre falaram no sussurro das noites.
nunca mais foram.assim como os dias.prendem-me sempre, por momentos,por eternos momentos,por silêncios,por sonoridades,prendem-me porque a maternidade está ali.
não se explica,não se pinta,não se canta,não se escreve.está ali.
mas o tempo continua num tic tac obsoleto descritivo e ora corre ora caminha devagar e de repente dou por mim a perder a maternidade.
fiquei incrédula comigo.eu?maternidade a perder-se?não quero,não pode ser.
sim.
percebo que outra coisa,outro sentimento,outro quê,outro olhar,outro pensar vai aparecendo e percebo que me divorcio dos meus nós,dos meus eu e ele,dos meus eu e ela.
a alegria da maternidade está a entristecer-me.parece nua e transparente porque não tem cor.
talvez seja assim.talvez agora tenha de parar a maternidade de nós, esperando pela maternidade deles.
de repente pareceu-me isso:por entre sonhos da minha maternidade,vi-me a sentir outras maternidades que serão minhas,mas o nós será deles.
 ...não está a ser fácil...

quinta-feira, janeiro 18, 2018

O frio de morte

está frio.
sinto-o a envolver-me e não me deixa aquecer.
sempre fui assim.de frio,de muito frio,de interiorizar o frio.
mas este é diferente.
o tempo aliou-se ao frio e a vida desmembrada tornou-se acha gelada.
e sinto me assustada com este frio.
olho ao redor e vejo-o a aproximar-se de mim.
fecho os olhos e o gelo esfaqueia-me o peito.
e não consigo aquecer.
na verdade, sinto a morte.
morte do corpo, ao longe,que me acena por vezes e eu finjo que não vejo
morte do meu ser,em que a vejo irónica a tapar os olhos,os ouvidos, a boca...deixa de ser.morre.
morte do sentir, como a vejo gracejar de mim.como a vejo aqui tão perto a destruir-me o que não julgo ter, a alma que me faz amar,a alma que me faz sentir paixão. a alma.
é este o frio.
este frio que nasce todos os dias.
que me apanhou de surpresa.
o frio que nunca imaginei sentir.para já.
ainda é cedo.
está frio.

sexta-feira, dezembro 29, 2017

natal _17

durante anos esperei pelo natal.
esperei por tudo o que implicava,prendas,festa,dias sem escola,estarmos todos juntos.
durante anos esperei e sempre consegui concretizar aquela espera.
ao longo dos anos fui deixando de esperar, e transformei essa espera numa ânsia risonha de união,já sem as prendas,já sem grande festa,já sem a meninice.
o tempo vai passando e sem querer,o natal transformou-se no meu dia a dia:estar bem.
com o tempo já passado e a vida a crescer,a minha como adulta e as que cresceram dentro de mim a caminhar para longe,chego a estes dias e o desânimo aparece.
não o transpareço.sorrio.
o tempo arranhou-me o coração e hoje não sei o que são prendas,o consumismo consumiu todos, a festa já é o alimentar de momentos gastronómicos e, não estamos.
estar com...estar sem...
o meu pai foi-se.não recupero a perda,não consigo olhar para todos sem o ver.
os filhos, a sucessão logica de mim, juntamente comigo construíram muros que nos separam até um dia.
perdi-me na responsabilidade de tantas coisas, perdi-me em pensar no bem do todos e de tudo, que de repente estou perdida e já não sei se ame, se espere, se ânsie .
já não sei se devo fechar os olhos e deixar tudo ir,tudo continuar.

quarta-feira, dezembro 13, 2017

já não me nasce

tenho uma dor dentro de mim, que de tão grande e profunda,que de tão cortante e ardente,deixei de sentir.
não sei se explicar será a opção,porque não a há e acaba sempre tudo por ser coração,mas a dor que sinto em mim é bem maior do que o de mim posso pensar.
um filho,quando nasce,quando nos aparece, surpreende-nos no sentido da vida e nos sentidos.
conhecemos o cheiro dele,o som do choro,a rugueza das mãos,os contornos de penugem quase inexistente.
aprendemos que é ali que vamos ficar,que é ali que queremos morar,que é ali,naquele momento que percebemos que tudo vai ser igual sendo diferente.
o tempo passa,o choro muda como o tempo,o cheiro muda com a estações e os contornos e rugas fincam-se no corpo e na pedra interior.
e nós estamos ali.eu estive sempre ali. sempre.sempre.
vi sorrisos, vivi-os,vi choros, sofri-os, vi conquistas, vivi as taças e os diplomas.
e o tempo passou, mudando-se e mudando tudo e todos, dando-me mais rugas,menos contornos.
e começaram as perdas que não pensei ter.
perdi o olfacto,pois o cheiro dele já não o conheço,perdi a audição,pois o som das palavras por mim ensinadas e por ele aprendidas,deixei-as de ouvir,perdi a sensibilidade de lhe conhecer as rugas e contornos.
foi-se tudo,o que sempre foi tudo,para ficar-se em nada.
mas a dor é imensa por uma só razão,pressinto-a angustiada e se calhar não.
razão que o amor incondicional é incondicional,mas o amor de gostar estagnou como a agua pantanosa de verões sucessivos sem outonos,invernos e primaveras.
o filho já não me nasce.

domingo, junho 26, 2016

pela morte, pela vida

hoje já andei ao "estalo" com quase toda a gente que me rodeia.gritei,disse o que não devia e tratei todos com 7 pedras na mão.
mas apenas queria parar.parar de pensar e de sentir esta coisa que me amarfanha todos os dias desde que te foste.
por vezes, quando digo, desde que te fostes, não sei se penso em ti pai, não sei se penso em ti, meu filho.
um foi-se pela lei da morte,outro pela lei da vida.
mas apetecia-me tanto, que tanto um como outro me embalassem num baloiço deserto,num local deserto e me deixassem gritar, gritar até não ter voz.
depois, do pai ouviria as palavras de preocupação dele comigo, de me saber triste e desapontada comigo própria,mas também a ajuda para seguir em frente.fazes-me falta,fazes-me tanta falta para eu conseguir andar para a frente.e fazes-me falta porque eras o meu ouvinte.
depois, do filho ouviria palavras de queixume e de uma adolescência a roçar a idade adulta cheia de dúvidas e desencantos,mas também de sonhos escondidos e esquecidos que continuam dentre dele.fazes-me falta, fazes-me tanta falta para eu andar para a frente com o coração apaziguado de ti.e também tu foste o meu ouvinte.
o dia foi sem os dois, um pela morte outro pela vida.
e a solidão ruidosa em mim ficou, e só quero gritar por vocês.

segunda-feira, janeiro 26, 2015

perdidas uma da outra.

a dor a perda de um amigo, de um familiar é sempre tão grande que nos arrasta numa loucura que não passa.
mas e a morte de quem foi e deixou de ser alguém na nossa vida?
conheci-a já há uns anos.gostamos logo uma da outra,sorriamos,conversávamos e trocávamos ideias sobre a vida que ainda estava por vir.
sim...lembro-me do sorriso de míúda,de alguma timidez disfarçada e lembro-me do sentimento que tive. vi nela, e disse-lhe muitas vezes, que me via  a mim.
depois foi o amor que nos uniu e o mesmo amor que nos destruiu a amizade.
e foi o irracional, o ciúme,a maldade que nos envolveram até nunca mais nos vermos.
nunca mais nos vimos e agora ficou este vazio estranho.
perdi-a sem nunca mais a ter encontrado para lhe dizer que não valia mais a pena o que tinha acontecido.para lhe dizer e sei lá,sentir que todo o rancor já não existia.
ficarei sempre com a mágoa de não ter estado por perto,de não ter partilhado as nossas vidas.
porque tudo poderia ter sido diferente. podíamos ter sido sempre amigas.
 e a dor está cá de te perder.
de nos termos perdido uma da outra.
Catarina.

sábado, novembro 29, 2014

O meu diretor Toni

há uns 6 anos a minha vida levou um tropeço tão grande que pensei que ia deixar de respirar a qualquer momento.
a morte do meu pai, impensável e repentina, com um doloroso apagar de tudo foi como se levasse um tareia contínua até não sentir nada.
depois veio a indiferença.indiferença pelo bom e pelo mau.indiferença pela vida, pelos festejos,pelas desilusões mundanas, indiferença pela morte de outros a quem a vida se prolongou em mais anos que os que o meu pai tinha.
dizia eu, foi na sua hora, viveu uma vida,foi depois do meu pai.
cheguei a ficar deslumbrada comigo própria por ter estas tão serenas reacções,por pensar no inevitável como próprio e existente consumado.
e sentia-me acima de tudo e de todos.
enlouqueci.
até a noticia de mais uma morte anunciada. soco no estômago e outra vez a perder as estribeiras respiratórias.
fiquei sem respirar, não consegui engolir, não queria pensar.
e a morte saiu outra vez à rua.
e levou-o.
fomos amigos e colegas de trabalho.lembro-me do olhar tímido sem me conhecer, sentado numa mesa, numa salinha de gargalhadas enquanto ele brincava no computador.
ali entrava, ria-se,fumava o cigarrito e regressava ao que gostava de fazer:ensinar.
depois veio um novo rumo.dele e meu. fui para longe e quando volto já não havia salinha.
as gargalhadas continuaram,o meu cigarro desapareceu mas o olhar tímido, agora mais confiante estava lá.
zanguei-me,desiludi-me,apoiei,dei a minha mão, o meu respeito,os meus desatinos, as minhas refilices.
tudo durante tanto tempo e criou-se um sentimento tão grande de amizade,sentimento que continuo a dizer e a sentir como sendo a mais bela forma de amar.
nunca lhe disse,nunca lhe mostrei a sério o quanto o sentia no meu coração.
e ele foi.
e não consigo acreditar,porque não consigo respirar. não consigo aceitar,não consigo pensar.
saudade fica e mais uma raiva sem nunca mais passar.
um dia, Toni, vou te dizer o quanto estou zangada contigo.por teres ido sem hora,sem aviso,sem dever de ir.

quinta-feira, abril 24, 2014

o beijo

Durante toda a vida fomos ouvindo e vivenciando o beijo.
De pequenos nos ensinam a beijar por carinho, por respeito, por amor, e o beijo é sugerido a todo o momento seja querido ou não.
Beijamos por tudo e por nada, com vontade, deliciosamente, sentindo o sabor da alegria, ou então "pregamos" aquele beijo sem açúcar ou sal, obrigados pela conveniência e bem se é no cumprimento menos formal.
E o tempo passa, e o beijo acaba quase por nem se notar.
Mesmo que o seja dado com toda a emoção, acaba por ser mecânico, sem floridos e cores, logo pela manhã e mesmo ao deitar.
Ali fica a sensação de beijo sem o ser.
O tempo passa...
E de repente, um beijo sabe a toda avalanche de montanha russa. Simplesmente um beijo.
Surgem lembranças de risos, de brincadeiras, de vozes longínquas e perdidas de nós, surge o menos bom, mas recheado da força que sempre existiu.
O calor, o amor em todas as formas que me lembro ressurgem naquele simples beijo.
E há tanto tempo que não te dava um beijo...irmão.

terça-feira, outubro 30, 2012

Faceook,ou não?

Em tempos, aquando do grande "boom" do facebook, na loucura de escritas e de algumas brincadeira que nem sempre caiam bem escrevi mais ou menos isto:
"o facebook é como a minha casa.desorganizada, complicada de gerir e muitas vezes numa confusão saudavel de risos e conversas que a nada chegam, mas que se vão verbalizando em contextos desencontrados.
Quem aqui vem que venha por bem,que se gosta fique e dê ar de graça, que esteja nos risos e nas discussões com dignidade,mas quem vier por mal, quem vier para não partilhar um pouco de si que vá e não volte.
Na minha casa entra quem eu quero, quem eu gosto e quem eu confio.Os outros não passam da porta e não os quero por aqui.
Na vida todos acabamos por "descarregar" no facebook,(será mais fácil?) as chatices que nos agridem,as palermices que não dizemos em voz alta, a cusquice que todos adoramos fazer e a brincadeira que em momentos de realidade trocamos uns com os outros."
Assim ficou mais ou menos para quem viesse...
Mas com o tempo fui dando-me conta,numa ignorância mais ou menos entendida,que os que estavam como gente normal,que aproveita para se desmembrar dos dias complicados que vai tendo e desabafa como quem escreve um diário sem pensar,mas sempre esperando uma pequena palavra de carinho ou um abraço virtual,estavam presentes,ali,sempre que eu precisava e me entrosava nas memórias e nos desabafos...mas e os outros?Voyers de pouca classe,esperando momentos para alfinetar a desgraça alheia e mesmo parodiar de momentos tristes partilhados por todos.Na falsa amizade real, porque não faz sentido amizades facebookianas que não existam na realidade,foram buscando nas opiniões,nas decisões que sempre partilhei,motivos para achincalhar,usar no realidade o que sempre sentiram: sentimentos repugnantes na minha vida,que não concebo para orientação de percurso no meu dia a dia...
Assim encerrei o facebook.por tempo indeterminado,porque por lá ficam muito mais os amigos e familiares que os outros.E dos amigos e familiares já sinto saudade de gargalhar,de brincar e de discutir,nesta aprendizagem diária que é a vida.
E o facebook tornou-se num grande abismo pessoal,que me deixa a pensar se já só vivia num mundo virtual e a realidade era uma mera visão...

quinta-feira, julho 26, 2012

mundo!

dizem que estou contra o mundo.
e estou...este não é o meu mundo.

partilhar...

tenho andado para partilhar,nestes tempos de partilhas sem o ser,o momento de felicidade.
num pequeno pestanejar de olhos o amor brotou e ficou.ficou ali suspenso por tanto tempo que pensei que não existisse e tantas vezes o coloquei em causa.mas não, estava ali,num sussurro perto do coração a dizer que não,num arfar ao ouvido pelo sorriso em gargalhado dos sim da vida.ali estava,amor de paixão sempre vivo e eu sem acreditar que tal fosse possivel.
percorri a vida,claro que como todos,de altos e baixos de grandes e pequenas coisas,e aquele amor sempre ali,que eu via pelo simples pestanejar,ou sentia como o ar que nos envolve,que nos alimenta a todos os segundos.
e o amor ali estava,de mão dada,apertando-a quando pressentia o perigo de me ver perder,e segurando quando as forças perdia pela angustia de não me encontrar.ai,mão sabedora do que é o amor que não deixa a paixão desaparecer.ai,mão sabedora de mim mais do que própria eu sou.
e quando a vida se tornou no desespero da morte anunciada, que amor cheio de vida e paixão se instalou em mim,como o eterno momento de felicidade,aquele por quem corremos para encontrar e passamos um caminho longo e não o sentimos e não o alcançamos.
e se no pequeno pestanejar este amor brotou e ficou, foi num ultimo momento que falou mais alto e ali,senti que te amava,que sempre fui apaixonada por ti,que foste a felicidade,o meu sorriso de vida, a alegria da vida que continuo a celebrar até te encontrar em outro lugar.
que a partilha sirva para outros encontrarem a verdadeira essência da vida...

terça-feira, março 20, 2012

amor...

fevereiro já passou e março vai a meio...e o sol continua a brilhar e tanto se tem passado.
por este caminho de dias seguidos de meses consecutivos,fui vendo-me no passado,fui sentindo-me nos tempos de outrora,tão longe que eles são.
tudo se conjuga...e o amor,primeiro,segundo o terceiro aparece e arrebata.fez-me sorrir em sonhos,rir nos dias bons e não perceber porque não é eterno.como pode ser eterno um amor que não é no coração, é na alma de adolescente.sim, que adolescente tem uma alma diferente.é alma que suspira,que sangra mel,que sobe nas alturas e toca nuvens e roda como um pião bem lançado...e depois tudo é tão presente,as promessas,as palavras trocadas, os beijos que serão sempre lembrados e únicos.
e depois tudo pára.alguém já não sente como a nossa alma.e lembramo-nos que temos coração.
tudo se desvanece e o mundo desaparece,a raiva enlouquece, o silêncio está em todo o lado,nas palavras escritas,das promessas feitas,dos sorrisos cumplices.
o coração sangra e a alma cresce.
e o mundo não pára,não anda para trás e sufoca-se em ar,em soluços,em lágrimas e desaparecemos.

mas...
o dia vai nascer novamente e a vassoura do tempo varre tudo, e asas brancas vão esvoaçar e serão ouvidas novas gargalhadas...e tudo começa de novo...a vida.

e recordações ficam.não as amargas,mas as doces,da alma que sangrou mel,a cumplicidade que faz crescer...

como foi bom o tempo que passou...como é bom saber que a alma é uma ilusão, e o melhor é o que o coração sente...

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Hoje

Hoje estou sozinha.Momento raro no meu dia a dia, que é preenchido por tantos seres com vontades e necessidades tão diferentes que me baralham até à exaustão.
Mas estou aqui.Só.Ouço, não o canto dos pássaros, que deveria escrever e ouvir a quem se prese de escrever alguma coisa,mas ouço e percebo a velocidade dos carros que vão passando mesmo a alguns metros da minha varanda.Tenho os janelões escancarados como se de um dia de verão fosse, ou pensando que o é,pois apetece-me respirar,sentir o sol trémulo a entrar trazendo atrás de si a aragem que se tornará frio mais para a tarde.
O dia corre sem sobressaltos.E porque não haveria de ser assim.Claro que para mim é inédito, pois não existe dia, ou noite que por momentos dentro da minha cabeça não sinta uma angústia,um sobressalto por algo que possa estar fora do sítio,do tempo,de alguém.
E os carros passam...para onde irão?Quem levam?Gente anónima que se pode transformar em alguém que nos tornemos conhecidos.Basta o carro parar,basta eu ir à varanda e acenar,sorrir e dizer olá.
Engraçado os gestos que podemos resolver ter numa tarde de solidão apetecida.Era engraçado...mas não!Vou fechar o janelão.Estou a ficar com frio e olho para o lado e vejo um livro que me convida a um momento de leitura.
Vou...

sábado, dezembro 10, 2011

Regresso?

Se regressei?Não sei.Mas que sinto vontade de escrever, de contar de falar sinto.Mas sem maiúsculas,sem virgulas sem pontos...talvez alguns para que tudo fique bem entendido e percebido.
O tempo vai passando rapidamente sem me aperceber,hoje sinto-o lento, mas quando me sento e paro para pensar,penso olhando para ontem e vejo como todos os minutos e segundo correram tão depressa...e agora estou aqui.
Como estou?Viva, talvez...ou então sobrevivida de uma tempestade que ainda vai tendo alguns ventos e chuvadas fortes.Passei de menina a mulher e de mulher a tudo o que faz parte de vida que mesmo sendo mulher nunca quis ter...morte,desencanto,desilusão,desgosto,preocupação,sofrimento.Estas são sempre as palavras de que fugimos,mas que sempre nos aparecem ao virar das esquina, pegajosas e tinhosas mesmo!
Mas mulher é conhecer o sorriso de mim própria,por entre as lágrimas que choro eternamente,de conhecer o amor verdadeiro,sem pressa,sem correria,sem ansiedade.Amor sem fogo alto,mas com brasas sempre rosadas para manter o calor.Este sim...é o paraíso dos vivos,dos que olham a vida com esperança.
Continuo insatisfeita,bipolar nas emoções, sempre o disse e continuarei,pois foi o defeito que encontrei em mim,mas o que me tem dado crédito a mim própria para viver na minha seriedade e confiança.Tem-me dado bons momentos de felicidade, pois esta só o é por momentos, não nos convençamos que é permanente,mas tem-me dado tantas perdas.São as perdas que muitas das vezes me detroem,me fazem desistir,mas a bipolaridade que reina no meu coração e mente acabam por me levar ao caminho certo e percebo que as perdas já se transformaram em ganhos, em batalhas internas do que sinto e do que quero sentir.
Lamento os afastamentos.Dizem que é a vida que nos leva afastar das pessoas que nos eram próximas, algumas delas quase irmãs e irmãos de sangue, fossem família, fossem amigos...mas neste momento,que vejo quase como último para mim,vejo que não é a vida que nos afasta,somos nós que afastamos a vida e fechamos os olhos e fazemos de conta que tudo é,quando não é.Quando digo que este momento é quase um ultimo momento para mim, não se assustem, aqueles que ainda por aqui passam...o dia a dia mostra-me que devemos viver todos os momentos como sendo o último.Só assim podemos perceber as falhas que temos...e ainda bem que temos o dia de amanhã para colmatar as falhas.
Amanhã...quem sabe, dê mais um passo para reencontrar alguém que a "vida" a fez se afastar, ou a "vida" me fez afastar...batalhas ainda por vir...amanhã!

domingo, fevereiro 13, 2011

Mais um dia,hora,minuto.22.40horas...o João nasceu já há 15 anos.Vejo-o crescer e todos os dias o vejo partir para longe de mim, para construir o caminho que espero e anseio que seja de boas coisas, de bons momentos e de poucas perdas.
Mas um dia irei...e desejo que esteja perto de mim,me segure a mão e me diga baixinho:vai mãe,vai com um sorriso...fico aqui para te lembrar e nunca deixar que te esqueçam.
Mas serei digna de ser relembrada?Que faço hoje para um dia não ser esquecida?Não sei.Não pretendo imortalidade,mas quero deixar a marca nos meu filho, na minha filha, que vivi em plenitude, que fui feliz, que amei,que desesperei, que chorei as minhas perdas,que chorei a alegria de os ver sorrir.
Quero ser eterna para ele...como o levarei no meu coração.